Ministério pastoral é para mulheres?



O debate sobre o ministério pastoral da mulher é atual e relevante para a igreja cristã. Qual é a relevância? Se é o Senhor quem dá à igreja os seus dons ministeriais, ficamos diante de duas situações: Se reprovarmos o pastorado feminino e ele for bíblico, pecamos; se aprovamos o ministério pastoral feminino e a Palavra de Deus não ordena tal coisa, também pecamos. Precisamos descobrir o que a Bíblia fala a este respeito.

Fiz uma outra postagem sobre uma troca de mensagens que tive com um certo pastor que apoia o ministério pastoral feminino. Além deste evento, com o passar do tempo discuti este assunto em diversas ocasiões e em meio aos ataques e defesas, observei um fato muito interessante: Aqueles que defendem o ministério pastoral feminino trazem alguns argumentos dentre os quais posso destacar: primeiro, o argumento sociológico (a posição da mulher nos tempos atuais); segundo, o argumento sobre a cultura da época (a Bíblia não apoia devido à cultura da época); terceiro, apelam ao pragmatismo (se funciona, é certo) e por fim, em quarto lugar, apresentam textos bíblicos que demonstram as atividades femininas nas cartas paulinas e nos evangelhos para provar que é correto ordenar mulheres ao ministério pastoral.

Gostaria de apresentar as refutações a cada um destes argumentos e às interpretações errôneas dos textos usados para defesa do ministério pastoral feminino, tendo como premissa que Palavra de Deus é suficiente para nos dar respostas e nossa única regra de fé e prática, e por isto permaneço aberto às refutações desde que sejam bíblicas.

Para evitar que eu seja entendido erroneamente, gostaria de deixar muito claro que:
1° As mulheres têm papéis indispensáveis na igreja (são citadas frequentemente nos evangelhos e cartas paulinas);
2° As mulheres não só podem mas devem ser propagadoras do Evangelho de Cristo (isto é papel de todo crente, ordenado ao ministério ou não, homem ou mulher).

Este artigo será dividido em três partes principais: Refutações aos argumentos mais utilizados em defesa do ministério pastoral feminino; Refutações aos textos bíblicos utilizados em defesa do ministério pastoral feminino e por último, Textos bíblicos que descartam a possibilidade de liderança feminina.


Refutações aos argumentos mais utilizados em defesa do ministério pastoral feminino:



O argumento sociológico: "As mulheres ocupam lugares de destaque hoje nas empresas e até no governo! Elas são vistas como seres humanos iguais aos homens e tão capazes quanto eles de realizarem qualquer tarefa. Você não teve uma professora na faculdade? Nunca teve uma chefe no trabalho? Por que não pode então a mulher se uma pastora?"

Resposta: A Palavra de Deus não faz afirmações sobre como empresas devem funcionar, se é melhor promover uma pessoa do sexo masculino ou feminino aos cargos de gestão. Se uma mulher é mais competente do que um homem, ela deve ter prioridade dada a sua capacidade superior aos demais inclusive de outras mulheres, normalmente fruto de esforço pessoal. Se numa democracia o povo elege uma mulher para tomar a liderança de um país, assim deve ser e Deus não tem prescrições em sua Palavra sobre estes detalhes seculares. Quando tratamos de ministério eclesiástico, por outro lado, temos orientações claras e precisas na Bíblia sobre quem deve ser ordenado, as qualidades necessárias, e um destes requisitos é se seja um homem, não qualquer homem, mas um homem vocacionado e devidamente capacitado para a obra e de bom testemunho.
Há uma ordem natural declarada na carta de Paulo "Deus é o cabeça de Cristo, Cristo do homem e o homem da mulher" (1 Co 11.3). Assim como o fato de Deus ser o cabeça de Cristo não faz do Filho inferior ao Pai, assim também a mulher não é inferior ao homem, a distinção é hierárquica apenas.

O argumento cultural: "Na época de Paulo, as mulheres nem eram alfabetizadas! Paulo poderia ter ordenado mulheres sem problema algum se a sociedade daquela época não visse as mulheres como meros objetos dos homens."
Resposta: Jesus não se preocupou em quebrar paradigmas culturais da sociedade de seu tempo. Relacionou-se com samaritanos, manteve contato com mulheres pecadoras, publicanos, escolheu homens simples que em nada impressionavam por suas qualificações, Jesus não precisava da aprovação da sociedade para escolher seus seguidores, se quisesse escolher mulheres para compor o colégio apostólico, poderia ter feito. Dizer que Paulo escreveu suas orientações proibindo a mulher de exercer autoridade na igreja por que isto era coerente com a cultura da época, abre precedentes inclusive para aceitação e ordenação de homossexuais nas igrejas cristãs, afinal, se é verdade que ele escreveu o que escreveu por causa da cultura da época, quem pode negar que as afirmações nas epístolas à respeito da homossexualidade também não o foram pelo mesmo motivo. Se achamos argumentos para defender a ordenação feminina, o mesmo princípio nos obriga a ordenar homossexuais.

O argumento pragmático: "As mulheres vão aos lugares que os homens não têm coragem de ir! Eu conheço uma pastora que é muito usada por Deus, como Deus a usa se ele não concorda com a ordenação de mulheres? Paulo era um machista!!!"
No Éden, Deus colocou Adão e Eva, Adão como líder e Eva como sua ajudadora. No dilúvio, Deus falou com Noé, que era o líder de sua casa e não com sua esposa. Ao formar um povo que o buscasse, chamou Abraão, incluiu Sara na promessa mas tratava diretamente com Abraão que era o líder. Ao formar as tribo de Israel e não a filha, Deus escolheu os filhos homens de Jacó para serem líderes de suas tribos. Ao libertar o seu povo do Egito usou Moisés e Arão seu irmão para liderar o povo, separou a tribo de Levi para o sacerdócio e os sacerdotes eram sempre homens. Dos profetas levantados por Deus com palavras de correção para o povo ficaram registrados para nós no cânon os profetas maiores e menores, todos homens. Ao descer do céu e tomar forma humana, o Criador tornou-se homem, nos ensinou a orar ao Pai e não à mãe. Escolheu doze apóstolos, e quando Judas deixou o seu apostolado havia duas opções masculinas, dos quais Matias foi escolhido, ao chamar outro apóstolo, escolheu Paulo que era homem e que ensinou de acordo com a inspiração divina do Espírito Santo sobre os requisitos necessários para os que fossem escolhidos para líderes da igrejas que deveriam ser homens capacitados e que governassem bem as suas casas. João escreve cartas às sete igrejas da Ásia Menor, todos homens. Quem era machista? Paulo? O Espírito Santo que o inspirou? O Pai ou o Filho? 
Vemos na Bíblia Deus se utilizando de mulheres, crianças, jovens, e até uma jumenta para realizar a sua vontade! Mas será que este é o ideal? 
"Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas". Isaías 3.12


Refutações aos textos bíblicos utilizados em defesa do ministério pastoral feminino


Êxodo 15.20 “A profetisa Míriam, que era irmã de Arão...”
2Rs 22.14 “Então, os sacerdotes... foram ter com a profetisa Hulda.”

Ne 6.14 “... profetisa Noadia e dos mais profetas ...”
Lc 2.36 “Havia uma profetisa, chamada Ana...”
At 21.9 “Ele tinha quatro filhas solteiras que profetizavam.”

Profetas não eram dons de liderança para o povo. Eram levantados por Deus para proclamar a Palavra de Deus em tempos de rebeldia do povo de Israel e Judá, como Hulda por exemplo. Ana chamada de profetiza ainda está no contexto da antiga aliança. Ana estava no templo, mas não era sacerdotisa, os sacerdotes eram a autoridade constituída por Deus. Ana poderia compartilhar com os seus conterrâneos a palavra de Deus mas não há informação alguma de que exercia alguma autoridade sobre eles. Em Atos 21.9 fala sobre irmãs que profetizavam. O ministério profético conforme havia no AT encerrou-se com João Batisa (cf. Lc 16.16). As profecias no NT não dependiam de uma ordenação especial pois tratavam-se normalmente de predições (Atos 11.28), que estavam sujeitas ao julgamento da igreja pois não eram autoridade incontestável, Paulo até falou que as mulheres para profetizar na igreja deveriam cobrir a cabeça como sinal submissão (1 Co 11.5). Diante do exposto, será correto afirmar que as profecias verbalizadas por mulheres no NT é um bom argumento para a liderança feminina na igreja, se ao fazer isto a orientação era que cobrissem a cabeça como declaração de submissão?

Juízes 4.4 “Débora, mulher de Lapidote, era profetisa, julgava a Israel naquele tempo...”
Débora era juíza de Israel como diz o texto. Seria este um texto que demonstra a aprovação de Deus à ordenação feminina ao ministério pastoral? 
A leitura do texto a seguir pode trazer luz a isto: "E disse ela: Certamente irei contigo, porém não será tua a honra da jornada que empreenderes; pois à mão de uma mulher o Senhor venderá a Sísera. E Débora se levantou, e partiu com Baraque para Quedes". (Juízes 4:9)
Analisemos que diante de uma batalha, Deus ordena que Baraque lidere a guerra, e o que ele faz? Mostra-se covarde. Mesmo para Débora que era juíza, era uma vergonha, um exercito lutar tendo à sua frente um mulher. Será que havia um homem corajoso para liderar o povo? Certamente não. Deus não deixará de cumprir seus desígnios por que alguém se tornou frouxo, mas certamente para cada mulher à frente da obra de Deus, há um ou mais homens se recusando a fazer o que Deus lhes mandou, e darão conta disto. 

João 4. 27-29 “Naquele momento chegaram os seus discípulos e ficaram admirados, pois ele estava conversando com uma mulher... Em seguida, a mulher deixou ali o seu pote, voltou até a cidade e disse a todas as pessoas: Venham ver o homem que disse tudo o que eu tenho feito. Será que ele é o Messias?”
Este texto mostra uma mulher anunciando Jesus em Samaria. Ninguém precisa ser ordenado ao ministério para pregar o Evangelho e convidar pessoas para que conheçam ao Salvador pois este é o dever de todo crente, e não só de pastores ou evangelistas.

Romanos 16.1-6 “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive. Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios; saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo. Saudai Maria, que muito trabalhou por vós.”
Filipenses 4.3 “E a você, meu fiel companheiro de trabalho, peço que ajude essas duas irmãs. Pois elas, junto com Clemente e todos os outros meus companheiros, trabalharam muito para espalhar o evangelho. Os nomes deles estão no Livro da Vida, que pertence a Deus.”
Este texto claramente demonstra que as mulheres eram ativas na cooperadoras, e que se esforçavam para o bem estar da obra de Deus. Seria um excelente texto para citar caso a questão fosse "a mulher deve fazer o seu papel de cristãs ou não?" mas a questão não é esta. Como já afirmei há tarefas que são comuns a todos os crentes, homens ou mulheres, a saber: a pregação do evangelho ao pecador, o serviço de ajuda financeira e de outras naturezas aos que se afadigam na obra,etc.


Textos bíblicos que descartam a ordenação de liderança feminina


A Bíblia revela a vontade de Deus a respeito das qualificações da liderança da igreja? Com certeza sim e para isto leremos os texto de Timóteo 3.2-7 e Tito 1.6-9 para depois compará-los com textos prescritivos a respeito do papel da mulher no lar e também na igreja em 1 Timóteo 2.11; 

"Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;

Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;

Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
(Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? ) ;
Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo". (Timóteo 3:2-7)



"Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.

Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;

Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante;
Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes."
(Tito 1:6-9)



"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão."(1 Timóteo 2.11)

"Marido de uma só mulher"
Este texto refere-se a proibição da poligamia numa sociedade onde ainda havia esta prática entre aqueles que se achegavam à fé. Se houvesse pastoras nas igreja primitivas, Paulo poderia ter usado termos genéricos como "casados com uma só pessoa", mas a sua orientação pressupõe que está falando de igrejas que possuem lideranças do gênero masculino.

"Que governe bem a sua própria casa... se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?"
A liderança da igreja deve ser precedida pela liderança no lar. É claro que excetua-se o pastor que como Paulo e Timóteo seja solteiro pois neste caso há ausência de uma família que lhe seja submissa, mas quando uma mulher torna-se pastora, como poderá cumprir este requisito? 

"Não permito, porém que a mulher ensine"

Não há outra forma de interpretar o que Paulo diz aqui. Alguém pode não concordar com ele, mas não poderá dizer que Paulo pretendia dizer algo diferente. O motivo por que Paulo faz esta proibição é declarado, não se trata de cultura, nem de machismo mas "Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher", isto é, por causa da ordem na criação, por que Deus deu à mulher o ofício de ser ajudadora do homem e por causa da queda, pois à mulher foi dito que "o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará" (Gn 3.16).

"nem use de autoridade sobre o marido"
A mulher deve submeter-se à autoridade do seu esposo assim como a igreja está sujeita a Jesus. Com o advento do feminismo e sua influência na igreja, algumas pessoas passam a interpretar que a mulher não é submissa ao marido, mas à missão dada ao marido, igualando assim a autoridade de ambos (vi certa vez uma líder se senhoras dizer isto no púlpito). A verdade é que a esposa é ajudadora do marido e submissa a ele, sim a ele e não à missão dada a ele, assim como a igreja se submete ao Senhor. "De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos." (Ef 5.24).
Será possível ordenar uma mulher ao ministério e o ministro deve governar a sua própria casa, e a mulher não tem autoridade para tal? Poderíamos repetir a fala de Paulo "se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?".


Conclusão

Há outros textos que poderiam ser citados aqui, mas creio que o que foi exposto já serve de esclarecimento para quem ainda tenha dúvidas sobre isto.
A mulher tem liberdade para ensinar outras mulheres (Tito 2.3-5) pode profetizar se impulsionada pelo Espírito Santo, como vimos alguns exemplos acima e também em (1 Co 11.5-6) e tem para Deus tanto valor quanto o homem (Gálatas 3.29). As diferenças são apenas de funções, e não de valor. Sei que há muitas mulheres no ministério pastoral e do ensino, e não posso afirmar que estão no erro, pois como vimos, Deus pode usar quem quiser para o cumprimento dos seus propósitos mas estou convencido de que estas são exceções à regra, e de caráter provisório.


SDG